sexta-feira, setembro 15, 2006

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que triste
Que a mulher que eu amo
Seja sempre amada, mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
E a outra metade é saudade

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
Nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimento
Porque metade de mim é o que eu ouço
Mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso
E a outra metade é um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
Que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto
O doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia
E a outra metade, a canção

E que minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor e a outra metade...
Também.

Composição: Oswaldo Montenegro

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